INFÂNCIA E AS CRIANÇAS: transformações ao longo do tempo
Compreender aspectos históricos que perpassaram a vida das crianças é tarefa essencial, inclusive, para compreendermos a forma contemporânea que é dada à infância.
A própria noção de infância foi construída historicamente, de forma variável, em acordo com determinadas experiências. Durante muito tempo a principal etapa da vida foi considerada a vida adulta, de forma que a infância se apresentava como uma preparação para ingressar nesse momento. Como consequência, o universo que envolveu a criança em muitos momentos refletia as experiências dos adultos, em relação à escolarização, as brincadeiras, formas de socializar-se e até nas próprias roupas que imitavam as de adultos.
Ariès (2003) pontua que aquilo que se compreende por infância e adolescência foram invenções marcantes do Ocidente ocorridas na passagem do século XVIII para o século XIX, posto que a produção da qualidade de vida da população dependeria do investimento massivo nestas etapas do desenvolvimento, sobretudo nos registros da saúde e da educação. Para tanto, seria indispensável preparo técnico e prevenção com vistas a forjar indivíduos produtivos, saudáveis e capazes para o trabalho.
O advento da modernidade e o aparecimento da criança na estrutura familiar coincidem com uma preocupação moral e educacional visando o seu desenvolvimento em nome do ideal de um adulto moldado de acordo com as normas sociais. Na contemporaneidade, tem ocorrido a democratização da vida pessoal e familiar, incluindo a relação pais-filhos. Um exame aprofundado do lugar social da infância na atualidade não pode desconsiderar fatores importantes como a terceirização dos cuidados com as crianças, a medicalização e a patologização da infância, a epidemia de diagnósticos que recaem sobre as crianças, a complexidade dos sintomas infantis, o bullying, TDAH e as patologias compulsivas infantis. É fundamental ter em mente que as fronteiras entre o normal e o patológico são porosas, não são estáticas, sobretudo em se tratando de saúde mental.
Diante disso, não se pode perder de vista que as crianças vêm sendo convocadas a se enquadrarem em padrões e exigências sociais rígidas que demandam agendas cheias, o desempenho de múltiplas tarefas e habilidades específicas em períodos cada vez mais precoces da sua existência.
O desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais, assim como o tempo necessário a constituição psíquica, têm sido solapados por uma exigência de aquisição de competências que se ancora e se fixa no discurso da medicalização da infância.
Precisamos, sobretudo, acolher e proteger nossas crianças, mediando sua formação enquanto indivíduos críticos e participativos de nossa sociedade.
Fonte: Secretaria Municipal de Cultura.
Obras consultadas: ÀRIES, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2ed. Editora Guanabara.1981.
Fotos: Acervo Secretaria Municipal de Cultura.